Romaria ou Peregrinação?

As romarias e peregrinações são jornadas empreendidas por motivos religiosos a um santuário, a um lugar sagrado e milagroso. Normalmente as pessoas vão agradecer ou pedir graças, cumprir promessas ou simplesmente reforçar ou renovar sua fé. 

São romeiros, romeiras e outras pessoas, cujos fazeres e saberes nasceram do Catolicismo popular e que possuem uma estreita relação entre as ações do cotidiano e símbolos criados e adaptados a partir das crenças. Falar do universo das Romarias é enveredar por um caminho de riquezas culturais, com muitos detalhes e singularidades. Romeiros e romeiras possuem diversos elementos comuns no âmbito religioso, como suas práticas e as experiências compartilhadas, pois eles possuem uma força que mantém a fé e a devoção.

Os romeiros e romeiras justificam suas práticas na imensa gratidão e devoção a Nossa Senhora Aparecida, em virtude das experiências de fé por elas vividas. Elas e eles se declaram católicos e são devotos dos Santos Populares, mas em comum, todos afirmam ser devoto/devota de Nossa Senhora Aparecida. Essas pessoas são importantes sujeitos da história, pois, através das suas práticas religiosas, intervêm em diversas ocasiões do cotidiano, de forma prática, diversos ensinamentos herdados do catolicismo popular.

Romarias são realizadas de várias formas, sejam em carros, carroças, motocicletas, bicicletas, a cavalo ou a pé. Às vezes estas viagens duram dias e em alguns casos os romeiros fazem festas durante todo o dia com danças e roupas de caráter religioso.

As romarias voltam aos tempos antigos. Os judeus eram acostumados a irem em peregrinação no tabernáculo para fazer memorização do messias. A partir do terceiro século depois de Cristo, os cristãos participaram de peregrinações para visitar os túmulos dos mártires. Na Terra Santa foi longa a finalidade piedosa dessas viagens que certamente se originaram durante as Cruzadas e atraia muitos romeiros.

Em todo o mundo ocorrem romarias e peregrinações. A Terra Santa e Jerusalém, desde os primórdios do cristianismo, foram pólos religiosos que atraíram e continuam a atrair multidões de peregrinos.

Na diversidade dos contextos históricos e geográficos, as romarias sempre apresentam algo de comum: o costume de caminhar, de deslocar-se percorrendo grandes distâncias, rumo a um local onde são concedidas, de modo especial, graças e favores espirituais. Com essa motivação, os peregrinos enfrentam o desafio das longas distâncias, fome, sede, cansaço e tantas outras dificuldades.

Em toda a História da Igreja Católica as peregrinações constituíram sempre expressões de grande fervor religioso. Uma promessa é feita quando normalmente já se esgotaram os recursos humanos para resolver uma situação difícil, representando um ato de fé e confiança. O cumprimento de uma promessa é um ato de agradecimento, uma ação de graças de forte conteúdo simbólico, como o extenso caminho percorrido.

Com o tempo as peregrinações foram criando, ao longo de seus trajetos, hospitais, hospedarias e transportes para os romeiros. Fundaram-se associações para prestar-lhes auxílio, como a Confraria dos Peregrinos da Terra Santa - criada em Paris, no ano de 1325 - e as Ordens Militares, que visavam primordialmente a defesa dos Santos Lugares na Palestina e a proteção aos romeiros, como a Ordem dos Templários e a dos Cavaleiros de São João.

No universo católico, além da Terra Santa, os maiores centros de peregrinação são a cidade de Roma e o Vaticano, os grandes Santuários Marianos de Lourdes (França) e Fátima (Portugal), a casa da Sagrada Família em Loreto (Itália), transportada miraculosamente por anjos.

Em todas as nações católicas existem lugares de peregrinação, como o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, no México, e Nossa Senhora de Luján, na Argentina.

Na Argentina, os romeiros vão caminhando até à Virgem de Luján que é uma santa padroeira da Argentina. Ademais mais de um milhão de romeiros participam de uma caminhada em memória desta santa no mês é setembro de cada ano. O Santuário Nacional foi feito a partir de um milagre que teria acontecido em 1631, na cidade de Luján e foi visitada pelo Papa João Paulo II em 1982. Há uma abundância de pequenas peregrinações para Luján de diferentes aldeias da Argentina. Uma das mais importantes é a saída Peregrina Cruise de Luján ao Santuário de São Nicolau, com a particularidade de que é feita a cavalo na primeira quinzena do mês de outubro de cada ano. Tudo começou com ela em 1990.

Peregrino tem, atualmente, um sentido mais amplo, englobando todos aqueles que se movem aos mais diversos locais, os sepulcros de outros Apóstolos, Santos, Mártires, locais de Aparições Marianas, etc.

O caminho da peregrinação é, já por si, um universo com facetas religiosas, místicas, turísticas e físicas entre outras, e cada peregrino vive-o de forma especial. O peregrino leva um destino na mente e um propósito no coração. Durante a caminhada há, normalmente, um sentimento de discernimento de si e do mundo, e uma maior abertura e entendimento espiritual, despertado pelo tempo de introspecção, pelo contato com natureza, com novas realidades das terras e gentes que cruzam (peregrino tem raiz do latim, per agrum - através do campo).

Quase todas as religiões adaptaram as peregrinações como forma de culto religioso. O seu postulado fundamental é que a divindade exerce, em determinado lugar, influxos e benefícios especiais para os que a visitam.

Dá-se o nome de "peregrino", ou de "romeiro", a todo aquele que toma parte numa viagem dessa natureza. No entanto, com o advento das peregrinações a Santiago de Compostela, ela tomou um sentido mais preciso, assim passou a denominar-se, "peregrino" (por antonomásia) aquele que vai a Santiago de Compostela (por ter sido o primeiro grande local de peregrinação, no séc. X, poucos anos depois da descoberta da Tumba Apostólica, ocorrida por volta do ano de 829). São "palmeiros" os que vão à Terra Santa e "romeiros" os que vão a Roma. Várias outras figuras do cristianismo foram peregrinos com a missão de espalhar a palavra de Deus, como foi o caso de São Francisco de Assis.

As primeiras peregrinações do Cristianismo datam dos séculos III e IV (quando o Cristianismo foi tornado religio licita), e tinham por destino a Terra Santa. A peregrinação mais conhecida, e a primeira a ser relatada, é a de Histânica Erétria, que se supõe ter sido familiar de Teodósio I, um imperador romano. Posteriormente, registaram-se peregrinações em grande escala, a Jerusalém, devido à pregação de São Jerônimo.

Já no Brasil existem várias Romarias em várias datas, mas a mais conhecida e que tem mais expressão popular e realizada todo dia 12 de outubro, para a cidade de Aparecida-SP, onde está a Nossa Senhora Aparecida, intitulada como padroeira do Brasil. Inúmeros romeiros saem em caminhada até ao santuário em forma de agradecimento por algum pedido atendido por ela, segundo suas crenças.

Aproximadamente doze milhões de romeiros visitam o Santuário Nacional de Aparecida por ano, alguns portadores de angústias, esperança, gratidão e devoção. Esperança de cura de alguma doença, ou de oportunidade de emprego e alguns até pedindo dias melhores e mais paz no Brasil e no Mundo.

Os Romeiros chegam de ônibus, de carro, de moto, de bicicleta, a cavalo e a pé. Romeiros sem distinção, pobres e ricos, cultos e ignorantes, homens públicos e cidadãos comuns, pessoas importantes e outras desconhecidas. A fé traz os romeiros a Aparecida e as imagens da Basílica e sua grandeza os extasia.

Olhares lacrimejados buscam no infinito a benção, outros fecham os olhos e procuram concentração e afloram a alma repleta de gratidão, devoção e profundo senso sagrado. Outros trazem velas, rosário, retrato de parentes entre outros objetos. Alguns adentram a Basílica de joelhos, se arrastam, em total despojamento com a alma pura e simples e se entregam à proteção dos céus.

Um traço que se destaca na cultura tradicional no Brasil são as romarias que acontecem durante todo o ano apresentando, ciclicamente, grandes picos que chegam em alguns casos a demandar ações especiais dos Departamentos de Trânsito.