"O peregrino leva um destino na mente e um propósito no coração."

Em 2014 eu participei de uma Romaria, saindo de Mogi das Cruzes -SP no dia 08 de outubro e chegando em Aparecida- SP no dia 11 de outubro percorrendo 135 quilômetros na época.
Eu havia feito uma promessa e após a graça alcançada comentei com um amigo do trabalho que iria pagar a promessa indo a pé de São Paulo até Aparecida, então ele disse que fazia isso todo ano com um grupo, alertou-me também dos riscos e perigos dessa romaria. Estávamos no mês de agosto e ele disse que a romaria seria em outubro, mas que antes haveria um bingo em prol da romaria e uma reunião antes da missa de envio aos romeiros que acontece sempre mais próximo a saída. Fiquei um pouco apreensivo, a decisão de aventurar-me ao desconhecido não era nada fácil, eu não havia me preparado fisicamente e a data estava muito próxima, pois eu tinha a intenção de realizar a romaria em outra época, porém ao comparecer no dia do bingo, conheci o Grupo de Mogi das Cruzes e ao conversar com o coordenador e verificar a estrutura que ele oferecia, e a experiência de 17 anos fiquei mais seguro e resolvi encarar essa jornada com o seu grupo naquele ano.
As experiências narradas por alguns Romeiros também foram essenciais para diminuir a minha insegurança.
Assim como tantos outros romeiros que vivenciam essa experiência, durante a romaria tive tempo pra refletir e aprender muitas coisas ao enfrentar as dificuldades e situações bem diferentes do cotidiano. Talvez o segredo seja não ter pressa, permitir-se conhecer-se, observar tudo ao seu redor e refletir sobre a simplicidade, solidariedade e o descobrimento profundo de si mesmo, é uma viagem interior fantástica.
Eu não aconselho as pessoas a fazerem o que eu fiz, o ideal é se preparar antes, pois levamos uma vida sedentária e isso poderá causar problemas de saúde, mas a estrutura apresentada pelo Grupo de Romaria, com carros de apoio e enfermeira acompanhando o grupo me deu uma segurança maior. Esse trajeto é muito perigoso para se percorrer sozinho e principalmente fora dessa época. Caminhamos somente durante o dia e saindo bem cedo pra aproveitar bem o tempo.

A troca de experiências entre os romeiros durante o trajeto também é fascinante e algumas lições são aprendidas. A companhia de outros romeiros é importante, pois as dificuldades são muitas, principalmente causadas pelo grande esforço físico e percebemos que o pequeno preparo anterior não foi o suficiente. Por mais que seja organizada e tenha uma estrutura fantástica, cada Romaria é única e com um tempo de chegada diferente, pois as pessoas também são diferentes e as situações climáticas ou obras no trajeto também influenciam no ritmo da romaria.
Cada passo é valorizado e não só a chegada, mas as experiências vivenciadas durante o trajeto que é realizado sem pressa e com muita organização. O tempo passa a ter outra dimensão, diferente da que vivenciamos diariamente e as situações climáticas, físicas ou adversas é que determinam o nosso tempo.
Podemos fazer uma analogia do trajeto com o nosso dia a dia, pois no começo, ainda dentro de Mogi das Cruzes temos um panorama de cidade, as paradas são em intervalos menores, depois no trecho de Guararema somos contemplados com uma natureza linda e as curvas da estrada não nos deixam perceber o quanto andamos realmente. Ao chegar a Rodovia Presidente Dutra percebemos que o que parece estar perto, às vezes demora muito a chegar, e passamos a valorizar mais cada passo como uma verdadeira conquista. O caminho cheio de percalços e alegrias e a extrema necessidade de perseverança, fé e determinação nos remetem ao longo do trajeto a nossa vida cotidiana. E talvez as lições mais importantes sejam; não tenha pressa, respeite o seu limite, seja solidário e aconteça o que acontecer nunca perca a fé. Nesse momento torna-se fundamental a participação dos organizadores e o grupo de apoio, pois eles tratam cada romeiro individualmente respeitando o seu tempo, conversando, oferecendo apoio, orientação e cuidados, ajudando-os a prosseguir de acordo com seu ritmo. Ouvem bastante também, pois alguns peregrinos sentem a necessidade de contar sua história e expor seus sentimentos. Algumas pessoas do grupo de apoio nos provocam a andar mais rápido, outros conversam muito para distrair-nos do esforço físico, outros "mentem" é logo ali depois daquela curva ou daquela subida e você acredita e chega. É louvável em todos os momentos o apoio dos organizadores o convívio e troca de experiência.
Esse trajeto realizado de Mogi das Cruzes a Aparecida deve seguir dentro do possível o cronograma, pois comparando com o Caminho da Fé (Minas Gerais) ou o de Santiago de Compostela (Espanha), os perigos são outros, por ser grande parte dele realizado na rodovia Presidente Dutra. Caminhar a noite não é aconselhável em virtude da baixa visibilidade e o acumulo de caminhões na estrada, além de possíveis assaltos.
No primeiro ano os últimos dois quilômetros eu realmente tive a certeza que há algo maior que move a todos que realizam essa romaria e tantas outras pelo mundo, além do desejo de superação pessoal ou sonho. Talvez, a gratidão, a fé e todas as dificuldades que se transformam em júbilo. Eu já não tinha condições físicas para suportar as dores e ferimentos nos pés, mas consegui chegar com fé, superando minhas inseguranças e meus limites. Quando comecei a romaria eu não tinha noção da transformação que iria acontecer comigo. Na verdade acontece um processo individual e que atinge o fundo da alma. Eu não imaginava quão marcante e emocionante seria essa experiência, pois mais do que o esforço físico que em alguns momentos nos leva a pensar em desistir, o processo de transformação interior é que aflora em um renascimento. Existe também um misto de sensações e sentimentos, como medo, insegurança, tristeza e dor entre outros.

Muitas pessoas e amigos me perguntam, qual é a sensação ao chegar e o que aprendi ao realizar essa romaria, no começo eu respondia que era uma experiência única e que só indo pra saber, mas hoje posso dizer que é um misto inexplicável de fé, solidariedade, amizade, transformação, reflexão pessoal, encontro com Deus e sempre fica a sensação de ter valido a pena após aquele abraço no final e olhares sinceros de amizade. Costumo dizer também que a pessoa que participa dessa romaria volta com alguns valores renovados e passa a encarar as dificuldades da vida com outra visão. E lembre-se que tão importante quanto a chegada é como você realizou a sua romaria.
Em 2015, realizei a Romaria novamente, por estar mais preparado cheguei menos debilitado, a experiência anterior e a troca de conhecimentos com romeiros valeram a pena. Nesse mesmo ano fui convidado pelo Coordenador a escrever um livro contando os vinte anos de Romaria do grupo.
Em 2016 eu retornei, agora como um dos membros do grupo de apoio e e como primeiro secretário da Associação, por mais incrível que possa parecer nenhuma romaria foi igual, todas tiveram emoções, experiências e acontecimentos diferentes e em cada uma delas eu evolui um pouco mais em vários aspectos.
Já em 2017 sofri um pouco, tive bolhas nos pés, e a chuva, em dois momentos, atrapalharam um pouco também e como eu já disse a experiência foi diferente. Devido a alguns acontecimentos, que por ética, prefiro não comentar eu resolvi sair do Grupo e da Associação, principalmente por divergências quanto a parte financeira, pois o meu propósito sempre foi um evento sem fins lucrativos, motivos pelos quais a Associação foi criada. O que ficou foi a experiência e as amizades que vou levar para toda a vida.
Em 2018 resolvi apoiar o Grupo do Padre Marcos da Diocese do Campo Limpo que acompanhado da Sheyla e mais alguns fieis haviam realizado a romaria conosco em 2017.
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